12
Out06
O Caso
sissi
Há pessoas que se especializam em coisas várias. Em bordado inglês, bilros, arraiolos, conforme a sua predisposição e o sentido do vento. Eu burilei a minha existência no campo machame em torno de uma silhueta própria. Sou uma expert em casos. Aliás, é oficial: sou o melhor caso de Lisboa.
Enquanto não sou invadida por sentimentos nobres em relações eivadas, dedico-me com inominável dedicação, desde há muito, a estilizar a melhor forma de contacto com os machos com os quais me cruzo. Como sabemos, machos interessantes e disponíveis para se relacionar com princesas como eu não os há em quantidade. Vai daí como tal, resta-me equilibrar quejandos de relações em malabarismos sociais e afectivos, aos quais se convencionou denominar de «casos».
Os casos não são complicados. Pela sua natureza, ter um caso é o mesmo que conduzir um carro alugado. Damos as voltas que quisermos com aquele modelo com a certeza que o vamos entregar à loja no final da corrida, tenha ela a duração que tiver. Esta assumpção permite-nos veleidades várias. Desde logo, autoriza a existência de outros casos, no caso de serem gulosos como eu, numa imitação de intimidade que, eventualmente, se poderá procurar. Ter um caso é tão melhor quanto mais honesto. Impõe que se diga ao que vamos da mesma forma que convém ter em mente que, por vezes, a coisa nos pode sair furada. Ou seja, quando achamos que uma queca, é apenas uma queca, apenas uma queca, apenas uma queca, o caso, que começa inocente, pode degenerar e fazer com que nos sintamos a mulher cor-de-rosa no filme azul. Fora de contexto e fora de si.
O caso é a relação logisticamente perfeita. Porque não vivemos o lado angustiante do amor, o caso permite-nos exercitar o corpo e a mente sem comprometer o coração. Paliativo da relação amorosa, o caso é a das melhores coisas que as relações humanas me trouxeram. Impregnado de um pessimismo optimista, ter um caso é, antes de tudo, um acto inteligente de manutenção de nós mesmo enquanto seres humanos, porque nos permite continuar a sentir fora do socialmente composto.
Por tudo isto, e por mais que não cabe aqui, sou o melhor caso de Lisboa.
É engraçado que quanto mais o tempo passa mais nos especializamos naquilo que queremos deixar.
Vidas...
Enquanto não sou invadida por sentimentos nobres em relações eivadas, dedico-me com inominável dedicação, desde há muito, a estilizar a melhor forma de contacto com os machos com os quais me cruzo. Como sabemos, machos interessantes e disponíveis para se relacionar com princesas como eu não os há em quantidade. Vai daí como tal, resta-me equilibrar quejandos de relações em malabarismos sociais e afectivos, aos quais se convencionou denominar de «casos».
Os casos não são complicados. Pela sua natureza, ter um caso é o mesmo que conduzir um carro alugado. Damos as voltas que quisermos com aquele modelo com a certeza que o vamos entregar à loja no final da corrida, tenha ela a duração que tiver. Esta assumpção permite-nos veleidades várias. Desde logo, autoriza a existência de outros casos, no caso de serem gulosos como eu, numa imitação de intimidade que, eventualmente, se poderá procurar. Ter um caso é tão melhor quanto mais honesto. Impõe que se diga ao que vamos da mesma forma que convém ter em mente que, por vezes, a coisa nos pode sair furada. Ou seja, quando achamos que uma queca, é apenas uma queca, apenas uma queca, apenas uma queca, o caso, que começa inocente, pode degenerar e fazer com que nos sintamos a mulher cor-de-rosa no filme azul. Fora de contexto e fora de si.
O caso é a relação logisticamente perfeita. Porque não vivemos o lado angustiante do amor, o caso permite-nos exercitar o corpo e a mente sem comprometer o coração. Paliativo da relação amorosa, o caso é a das melhores coisas que as relações humanas me trouxeram. Impregnado de um pessimismo optimista, ter um caso é, antes de tudo, um acto inteligente de manutenção de nós mesmo enquanto seres humanos, porque nos permite continuar a sentir fora do socialmente composto.
Por tudo isto, e por mais que não cabe aqui, sou o melhor caso de Lisboa.
É engraçado que quanto mais o tempo passa mais nos especializamos naquilo que queremos deixar.
Vidas...