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Dez04
O Dr. é um fixe...
sissi
As gajas são, regra geral, desenrascadas. Desenvoltas. São poucas as situações em que a pecha se sobrepõe à souplesse, e que ambas interditam o sucesso da tarefa. Anos de apuramento da espécie ditaram que nós, as mulheres, estamos, cada vez mais, aptas a lidar com conjunturas potencialmente geradoras de conflito (seja ele de que índole for), com a leveza de um pax de deux da Margot Fontaine.
Mas não confundir leveza com displicência. Que já não nos bastam a depilação, parto, TPM, menstruação e outras tantas maleitas da vida diária, também tínhamos que ter o ginecologista.
Assim de repente, não me consigo lembrar de nada mais constrangedor que estar de perna aberta, em cima da marquesa, com um especro dentro de nós, e um olho gigante potenciado pela lupa da luminária que nos observa, celúla atrás de célula, o sistema reprodutor.
Para início de conversa, eu quando quero alguma coisa cá dentro, das duas uma: ou peço ou faço. E nesta check list a resposta certa seria «none of the above». E isso, por si só, já dói!
Uma consulta no ginecologista deixa-me, ainda mais, atoleimada que o costume. Até porque eu não sou gaja de me deter em pormenores ao contrário do Sr. Dr. «Então e quantas vezes tem relações sexuais por semana?» Apeteceu-me mentir-lhe e dizer-lhe «imensas», mas não o fiz por um pudor que desconhecia até então. «Mas quer que lhe diga um número?» perguntei, com o ar mais encaralhado do mundo, «sim, quer dizer, o vocábulo «quantas» já pressupõe um número...»! Bonito! Para além de versado em Trompas de Falópio também sabe de gramática e diz piadolas! Decidi ir pela abordagem social: «Tá a ver, eu sou uma mulher solteira, e até me considero resolvida nesse campo, mas não sei se lhe consigo dar um número exacto por forma a que possa aferir condignamente...» «Ok, pronto, 5 vezes por mês tá bem assim?» «Tá...»
Vexame número 1...
O vexame número 2 não tarda, até porque se é para cortar pulsos então vamos lá fazê-lo como deve de ser! «Então e doi-lhe não é? E em que posições?» Ora foda-se! Já agora vou aos «Meus Favoritos», faço um print e mando-lhe um fax! E explicar a um senhor, soit disent, expert na matéria, que como todos os expert, já conta com, pelos menos, 354 lustros, que és ginasta e gostas de inovar ou és do tipo indolente e preferes a clássica missionária? Sentiria os seus olhos na minha nuca se estivesse a olhar para ele...
O vexame-maior é a marquesa, o que até é um contrasenso, porque marquesa é feminino!!!! O bailado da perna aberta, mete aparelho, tira aparelho, volta a meter e a tirar, enquanto te apalpa, desculpem, «faz a apalpação», do útero, é das coisas mais horrososas que há. Primeiro, porque nunca supus que tivesse o útero nas amígdalas, que é onde sinto o senhor, salvo seja, e depois porque, detendo-me no detalhe, julgo mesmo que não há nada mais invasivo que isto.
Vexame número 4: no final da contenda, meio abúlica e quase em avatar, pagas (e bem) e não bufas...