13
Out05
Maré Vazia...ou talvez não.
sissi
Ontem, histérica de alegria e contentamento, meti-me no bólide depois da FNAC e fui em killer mode até casa. Debaixo do braço levava uma caixinha de DVD´s azul, à qual me agarrava como se a minha vida dependesse dela. Chego ao Palácio, faço um tabuleirinho com um hot dog e um Sunny D, Florida Style, e refastelo-me no leito Real a rebentar de conforto. Sem saber ainda o que me esperava, ligo o DVD e ouço a música do Verão Azul. De imediato me vêm à memória as tardes em casa da avó, nas quais vivia ansiosa para que o relógio batesse as 3 e assim ligar a televisão. Começava o Agora Escolha, da Vera Roquette. Independentemente do que fosse o Bloco A ou o Bloco B, a turma do Piranha preenchia o intervalos das votações ao mesmo tempo que animava aquela minha hora diária.
Passou o genérico e passou a animação. Porque se um clássico é um clássico é um clássico, porque o tempo passa e ele é sempre bom sempre bom sempre bom, então o Verão Azul não é um clássico. Das duas uma: ou houve uma geração inteira a sobrevalorizar uma série que se tornou de culto, ou então aquilo é muito à frente e eu não topei o alcance. Na altura, pareceu-me um grupo coeso, amigo, com as diferenças naturais entre as pessoas, mas sobretudo, unido. Hoje, parece-me irreal que um velho e uma quarentona, o Chanquete e a Julia, pudessem andar um Verão inteiro a aturar uns chavalos mimados com brincadeiras parvas, porém próprias da sua idade. Para além disso, hoje em dia vejo que o grupo sobrevivia à custa das fragilidades uns dos outros numa autofagia cruel. A Bea, a rapariga gira e disputada, era a compincha da Desi, a do aparelho nos dentes e de óculos que ninguém queria nem para pano do pó. O Javi, que se vivesse cá seria um betucho do Planalto, rivaliza com o Pancho, a encarnação mais perfeita da minha fantasia dos putos da Casa Pia, numa luta, como se calcula, desigual. Em condições normais, estes putos nunca se teriam sequer cruzado. O Quique (que é igualzinho ao Bill Murray), é tão anódino, que se vê logo que tá ali só pa encher chouriços. É mais um betucho que tem que existir para dar contracena e fazer o contraponto com o outro. O betucho esperto e o betucho burro. Na realidade, o núcleo dos mais novos, Tito e Piranha, é o mais interessante e o mais verosímil. Por incrível que pareça, o Piranha é o que tem as falas mais inteligentes. Mas como os gordos são sempre sacos de porrada, o seu personagem está ali apenas para nos espantar, e supostamente fazer rir, com a quantidade de comida que consegue deglutir.
Portanto, agora que sistematizo a coisa, se calhar o Verão Azul é, na realidade, um clássico. Porque se pensarmos na forma como os grupos de organizam hoje em dia e no modo maniqueísta como as personagens nos são apresentadas como sendo um espelho da vida real, então esta grupeta é do mais actual possível.
Foda-se. Agora não sei se fique triste se fique contente. Acho que acabei com o mito...