27
Set05
As papagaias
sissi
Ultimamente tenho tido o desprazer de conviver com um dos tipos de pessoa que mais me desagrada. As papagaias. Aquelas que, há falta de melhor, imitam trejeitos, roubam palavras, surripiam ideias descaradamente e tomam-nas para si como se tudo aquilo fosse produto das suas articulações e pensamentos. Se essas pessoas forem mulheres, a coisa torna-se mais complicada. Porque sendo a pessoa menos competitiva que conheço, não estou totalmente desprovida desse mal e, como tal, numa situação de igualdade, já dei por mim a tentar ser a primeira a cortar a meta.
As mulheres papagaias enervam-me. Tenho uma amiga assim. Honra seja feita sua à capacidade de interiorizar as ideias dos outros e, consequentemente, entrar em personagem. Irrita-me que me sugue a imaginação e displicentemente a arremesse em conversas alheias. E eu entendo que todos nós fazemos isso, todos temos referenciais e matrizes, mas a reprodução acrítica de uma opinião escutada, o juntar letras e formar palavras sem um segundo de reflexão sobre elas é o suficiente para que o meu interessa se esvaia.
E eu e a minha amiga temos esse tipo de relação. Ela continua a ser uma amiga porque, obviamente, não a retalho. Ela não é só isto ou aquilo. É um todo que aprendi a gostar e a respeitar. Irrito-me com ela na mesma proporção em que me entristeço. Porque a vejo como alguém que já nasceu velho, que precisa de canibalizar as opiniões dos outros para se tornar numa mulher do seu tempo. E por isso calo-me. E continuo a conversar com ela e a ouvi-la como se me ouvisse a mim.