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cenas de gaja

09
Ago05

Sex Shop - uma aventura em Lisboa

sissi
Sou uma gaja complicada em quase tudo o que me diz respeito, excepto num assunto. Sexo. Apenas porque é bom demais para se perder tempo com demagogias e teorias várias que, a mais das vezes, nos impedem de viver a sexualidade de uma forma plena.
Tenho alguns gadjets sexuais, que uso em casos de self indulgence, self amusement, e outros que aguardam no baú a pessoa certa que me fará ter vontade de os experimentar. Tenho para mim, como convicção pura e tão forte como qualquer outra, que qualquer mulher deve ter um vibrador. O orgasmo faz bem à alma, é libertador. E à falta de um amor que dê contorno e vida àquele Falo wannabe, é um objecto que aconselho a todas. O meu pifou. E ontem fui comprar outro.
O meu official supplier é uma amiga que vive fora e está de férias. Como tal, fui obrigada, pela primeira vez, a deslocar-me a uma sex shop portuguesa para comprar um vibrador. E fi-lo com a mesma atenção que dedico a comprar qualquer outra coisa que goste. Escolho, pergunto, penso, vejo o que é melhor. Ontem fui à nova loja, ali ao pé do Elevador da Glória, referenciada como sendo a melhor. Entrei, e qual não é o meu espanto quando, em vez dos tradicionais artigos, havia um bar, manhosíssimo, tipo tasca, onde não faltavam a Macieira e a Amêndoa Amarga, e uns tipos de aspecto duvidoso, saidínhos directamente de um filme de série B.
Forrado a capas de revista e anúncios de sexo ao vivo, aquele local não dignificava, ou glorificava o sexo. Pelo contrário. Tornava-o sujo na sua essência, despiciendo, básico, feio. Um nojo, portanto.
Ao meio, estavam uma série de guaritas, em ciírculo, como que a obrigar o olhar para um meio que não sabemos à partida o que é. Não está assinalado, não diz ao que vem. Calculei que fosse um peep show. Fazia sentido a disposição das cabines. Fiquei curiosa, porque sempre quis ver um e questionei o senhor da loja sobre a possibilidade de o fazer. A pergunta deve ter caído que nem uma bomba naquelas hostes porque, de repente, as pessoas à volta deixaram de falar e os seus olhos viraram-se para mim. Tremi num tremor que era meio raiva, meio medo, meio nojo.
- Os peeps são só para homens.
- Porquê?
- Regras da casa
- Mas eu nunca vi, certamente não estarei lá o tempo todo, era só para ver como funcionava.
- Eu não tenho nada contra as fufas, mas se o meu patrão sabe eu vou pó olho da rua.
- Fufas?
- Ó menina, não me leve a mal, que eu até gosto de vos ver nos filmes - diz, rindo e mostrando uma dentadura em decomposição.
Ouvi e ignorei. Não valir a pena explicar-lhe que a curiosidade não é um estado civil nem sexual. Tínhamos códigos diferentes e esforcei-me (muito) por ignorar o senhor.
Vencida que estava relativamente ao peep show, concentrei-me no meu objectivo inicial: encontrar um vibrador que substituisse o Falo defunto. Dentre a (pouca) escolha existente, não escolhi nenhum. Mas que raio é que esta gente pensa? Havia falos do tamanho do meu braço da grossura do meu tornozelo!!! Por Zeus, por toda a mitologia grega! Mas está tudo doido?
Restou-me sair dali, mais desconsolada do que entrei, e fui até casa a pensar no insólito da situação. E achar que esta sex shop é, de alguma forma, o espelho da ideia de sexo ainda vigente na cabeça de muita gente. Viver a sexualidade, pensar e falar dela são território exclusivamente masculino. E ai da mulher que ouse salpicar estes domínios com toques de requinte.
A minha sorte é que nunca quis ser uma «leide».
E isto desgosta-me tanto, que dou por mim a fazer panegíricos sexuais deste género.
Caralho!

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