08
Ago05
Bas fond lisboeta
sissi
Bas fond, aka, Fontória, uma das casas de putas rascas mais fina de Lisboa. Noite de sexta feira, quatro gatos pingados, a arfar de calor numa Lisboa vazia de gente e de vento. As nossas vontades não coincidiam e eu já lhe tinha dado o ultimato: «Se quiserem ir pa Cacilhas pá merda da festa dos góticos, caguem lá nisso. Eu não vou. Até calha bem que o carro é meu...»
Eu, que até estava bem disposta, porém um pouco nazi (é do calor...), «convenci-os» que numa noite em que às 3 da matina estavam 27 graus, o certo é ir ao Hot Club, o local cujo nome melhor assenta, porque mesmo que os 27 graus fossem negativos, lá dentro estaria sempre um calor de fazer inveja às chamas do Inferno. Mas enfim, é nisto que dá ter bons amigos. É tenho um fraquinho desssssssteeeeeeeee tammmmmmmmannnnnnnhhhhhhoooooo pelo rapaz que lá toca e cada vez que posso arrastar alguém, lá estou eu. Mas naquela noite, o meu fraquinho foi fraco demais e ar condicionado é uma coisa muito à frente para aqueles senhores que ainda devem ver as horas pelo sol. Saímos.
«E se fôssemos ao Fontória?» - disse um dos compagnons de route
«Boraaaaaaa» - parecíamos uns miúdos a quem tinha sido dado um passe vitalício para a candy shop. O Fontória é gargalhada certa.
Brifamos devidamente um elemento do grupo que ia fazer o seu baptimo de vôo.
«Não te podes rir na cara das pessoas, porque aquilo é a vida delas, e é chato, e sobretudo, perigoso. Se quiseres beber, pede uma garrafa de água, que é mais barato, e custa 5 euros. Esquece as pipocas e os amendoins por razões que não vêm agora ao caso...E se ainda lá estivermos quando trouxerem as pataniscas, caga nisso. Aquilo são pedaços de sal com cheiro a bacalhau...» - aqui todos nos rimos da piada brejeira e olfactiva e culpámos o alcóol e as ganzas por isso..
Entrámos. O ambiente não podia ser mais «filme» do que aquilo. Sentámos-nos e eu nestas situações lembro-me sempre daquele mito urbano que diz que se te sentares em certos sítios (mais porquitos) podes apanhar hemorróidas. Fico aflita porque essa é uma área muito sensível do meu corpo e eu nem quero imaginar uma doença para essas bandas...
Mas tergiverso. Como a sorte protege os audazes, nem 5 minutos depois começou o show. E estava eu à espera de ver uma boa mama ou um bom rabo que pudesse maldizer, em vez do strip, tenho um grupo de 6 meninas escandinavas, que faziam um bailado que não tem descrição... Portanto, eram vários quadros, com várias coreografias e várias músicas diferentes. A qualidade é subjectiva, mas a mim pareceu-me aqueles saraus de ginástica, com os outfits muito feios, elas descordenadíssimas, e tudo isto destoava da tez alva, olhos azuis e cabelo loiro, num enseble que as punha a milhas dali! Fizémos apostas e ganhou a teoria do Nuno de que «as miúdas são estudantes, andam pela Europa e fazem este show para ganhar uns trocos...» Ele há gente ingénua...
Enfim, o espectáculo do palco terminou, ao mesmo tempo que iniciava o das «bancadas».
Ora, nos sofás, devidamente forrados a veludo vermelho, havia de um tudo. De um lado as putas portuguesas, desdentadas, feias, velhas, gordas. Será que elas não entendem que uma mulher nestas condições a dormir num sofá é capaz de não levar a água ao seu moínho? É que do outro, estavam as brasileiras, novas, feias, enérgicas, simpáticas e boazonas. A fauna masculina era composta por novos e velhos, numa encenação lúgubre que mais parecia um take do «Feios, Porcos e Maus». Enquanto pensava no pólo de doenças contagiosas em que devia estar metida, e enquanto todos, do alto das nossas vidas fáceis, teorizávamos sobre o fenómenos social que estava à nossa frente, dei por mim a pensar que a maior doença daquele quadro surrealista era a solidão. Ali, estavam sobretudo (tirando as brasileiras), pessoas sós, do Manel da Esquina ao Manelinho da Lapa, todos eles de olhar baço, apenas despertado pelos rabos sem mácula e o silicone do peito de uma qualquer brasileira que se despia sem alma agarrada a um varão também ele morto.
Entretanto, perdeu a piada e viémos embora.
Foda-se!