Estamos em Agosto e os últimos números que vi apontavam para 22 mulheres mortas em situações de violência doméstica desde o início do ano. Continuo sem perceber como é que isto acontece. Ou seja, cognitivamente, leio e escuto as razões mas nada do que o meu cérebro regista faz sentido, tendo em conta a morte e a violência dos contextos em que estas mulheres morrem.
Um abusador dá sempre sinais. Sempre. Bem sei que quando nos apaixonamos, isto que agora chamo sinais são apenas marcas de personalidade, um ciúme ou outro revelador, uma excepção. Os químicos que o nosso cérebro segrega sobrepõe-se ao discernimento e impedem-nos dé ver o que está, claramente, à nossa frente. Até ao dia. Em que, sem se saber bem como, a coisa dá-se. O abuso verbal, passa a empurrão que passa a murro que passa ao trespassar de balas.
Parece demasiado dramático? Não é. Os casos de violência doméstica, ou de qualquer tipo de abuso, são de uma cobardia tão grande que as palavras, por mais eloquentes que sejam, não têm espaço para abarcar os danos que causam. Porque à excepção dos contextos que acabam em morte, uma mulheres abusada fica marcada para a vida, tantas vezes de uma forma subreptícia que se manifesta numa intimidade que tarda em chegar. Uma mulher a quem o seu mais que tudo, aquele que deveria ser o lugar seguro, bate desconjuntadamente, desconfiará da sua própria sombra para sempre. E o pior de tudo: uma mulher abusada entra numa trip de culpa para a vida, como se merecesse aquele e todos os outros males do mundo.
Por isso, minhas querida, não se coloquem a jeito. Se um tipo, por muito fantástico que seja aos vossos olhos, começar a ter reacções inesperadas de dureza e violência, é só uma questão de tempo. E de escolha vossa.
Estou cansada de acudir amigas em permanente sobressalto. Por vocês, que não vos conheço, tudo o que posso fazer é escrever. Cuidem-se. Protejam-se. Informem-se. Sejam mais espertas. Tornem-se melhores. Fortaleçam-se. E não deixem que qualquer outra razão seja mais importante que vocês mesmas.