Moody
Agora que tenho um trabalho como as pessoas (algum dia tinha de ser...) tenho experimentado as delícias do sono profundo. Razão pela qual ando há semanas a tentar ver a segunda série do Californication, sem sucesso. Não obstante, e nos poucos segundos antes de desmaiar no dossel real, lambo os dedinhos, e mais se me deixassem, com as cornucópias mentais da deliciosa personagem desta brilhante série, de sua graça Hank Moody.
De todas as ideias feitas que vigoram sobre a casta masculina, a que me parece mais falsa, fantasiosa até, é a da aparente simplicidade dos homens. Dizemos que os homens são simples como quem explica que para fazer uma mousse caseira basta juntar água e já está. E isso parece-me, manifestamente, pouco. É claro que a falta de hormonas em crise existencial lhes permite uma existência mais calma, o que à partida pode ser visto pela lupa de uma aparente simplicidade. Mas será? Vejamos Hank Moody. O que há de simples na sua cartilha? Suponho que nada.
Muitos de nós conhecemos um Hank Moody. Alguém que as mulheres desejam e odeiam em partes iguais e com a mesma força, e que os homens…também. Mas por razões diferentes. É o mais perfeito contra senso masculino, o que, como nós mulheres bem sabemos, é uma armadilha. É o tipo de homem que consegue passear no fio da navalha com a souplesse de uma prima ballerina. Faça o que fizer, haverá sempre um par de olhos e consciência indulgentes que aceitarão, graciosamente, toda a atitude, palavra ou chiste bem metido e ainda batem palmas para o encore. É dele que esperamos ouvir tudo o que pensamos mas nunca diremos e são ainda da sua safra as questões e ideias mais deliciosamente contra corrente e politicamente incorrectas, mas sempre embrulhadas num papel de seda no qual, muito raramente, tropeçamos. Poucos homens conseguem adorar mulheres, consumi-las à saciedade e largá-las no dia seguinte com a candura de Hank Moody. Poucos ainda conseguem o seu equilíbrio extraordinário de verbalizar opiniões que ofendem sem que as mesmas sejam necessariamente ofensivas.
Não há pruridos nesse lado masculino do mundo. E talvez seja esta naturalidade de quem não pede desculpas por chamar preto ao preto e branco ao branco que nos leva a nós, mulheres, dizer de cima do salto que os homens são simples. Serão?