Esta é a última crónica que escrevo para a FHM. A melhor revista de homens do país, com a melhor equipa do mundo, vai fechar após a saída deste último número. E mesmo sabendo que tudo tem um prazo de validade, a começar pela própria Vida, não deixo de sentir uma já saudade e nostalgia pelos três anos e tal de amizade e carinho. Obrigada a todos por sempre me terem tratado como uma verdadeira Princesa.
Beijos muitos. Love you all.
Tal como tudo na vida, o sexo também está impregnado de conceitos e preconceitos que não têm outra finalidade que não alimentar discussões e conversas de prostíbulo. Ou de taberna. Ou de qualquer outro local onde o a dicotomia mental «homem garanhão, mulher vaca» se aplique relativamente ao número de parceiros sexuais de machame e grelame. E não há nada a fazer. Por mais voltas que a Terra dê à volta do Sol ou que o Sporting tente fazer um jogo decente, a verdade é que uma mentira dita muitas vezes pode mesmo tornar-se uma verdade. Insofismável, pelos vistos. Daqueles que nem as gerações vindouras poderão apagar.
E perguntam vocês: «Oh Sissi, rainha e não Princesa dos ditames sexuais, de que raio falas tu?» E eu respondo: da velha ideia instalada em tudo o que é cabecinha pequena, de que uma mulher com desejo e segurança suficiente para procurar parceiros sexuais é uma vaquinha, e um homem nas mesmas condições é um puro lusitano. Bem sei que discutir esta questão é um pouco como elucubrar sobre o sexo dos anjos, mas façamos este exercício. Até porque, à primeira vista, esta poderia ser uma ideia propalada apenas pelos machos. Ou seja, apelidar uma mulher de «fácil» ou de «porca» dependendo do número de homens com quem pública e supostamente dormiu, parece ser um trabalhinho sujo de um qualquer macho em fúria após levado um coice de rejeição. Mas é pior. Também nós, gajas, contribuímos igualmente, para que este tipo de vómito palavroso disfarçado de opinião nos acerte em cheio onde menos interessa: entre as penas e no meio da auto-estima.
Na realidade, não encontro uma razão concreta para tão adversa e díspar forma de tratamento. Porque razão um homem ganha crédito por degustar tudo o que tenha duas perninhas e um buraco e a mulher não possa aplacar a sua boca em todos os Falos que lhe apetecer? Porque razão as mulheres são estigmatizadas e os homens imunes às criticas? Porque razão uma mulher que pose para uma revista masculina é uma porca e um homem é só alguém que vai muito ao ginásio e tem bons abdominais? Porque razão, quando pensamos em mulheres que fazem da sua vida e do seu corpo o que bem entenderem, dotamos o pensamento de todos os adjectivos pejorativos e concretos que conseguimos encontrar, e quando pensamos num homem não vamos além do que os nossos olhos vêm?
Obviamente, isto não é de agora. Desde tempos imemoriais que os homens usam este tipo de double standard para o achincalho social das mulheres. É simples. Basta um chuto no traseiro ou uma nega mais elaborada que a palavra «vaca» facilmente substitui uma explicação real, verdadeira e, clara está, provinda de egos amachucados. Mas seria de esperar que em 2010 essa diferença já estivesse mais esbatida. Por isso, grandes queridos e grandes queridas, toca a pensar antes de chamar «fácil» a alguém. Cuidado com os telhados de vidro.