Sissi no METRO - Small is ok.
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De tudo o que já me foi oferecido ao longo destes anos de blog, e, acreditem, foi muita coisa, o presente que mais tocou - e a palavra não podia ser melhor - foi uma acção de voluntariado cuja demanda se centra na possibilidade de fazer sexo anal sem dor. Nunca me tinham ofertado um cheque-brinde para levar no cú. Há sempre uma primeira vez para tudo, de facto.
Chegou hoje. Bem haja o leitor atento e dedicado.
Muito obrigada.
Estava a pessoa descansadinha a encher a peida com blinis e café do bom, entre as quatro paredes quentinhas do palácio, quando um aroma a hipocrisia nacional entra pelo buraco da fechadura real e me empesta o ar, perfumado com sândalo e flor de laranjeira. Fui ver, eram as caras de prazer da Clara Pinto Correia, que estão a gerar o brado pífio do costume, debaixo dos saiotes da (in)dignidade lusitana.
As fotos da verborreia são estas. Se as acho bonitas? Não. Se tenciono ir ver a exposição? Também não? Se acho extraordinário que as tenha feito, sendo uma figura pública, cagando de alto para tudo e todos? Acho. Acho mesmo que é do caralhão. E acho mais. Acho que a Clara de louca tem muito pouco. Acho que deve rir-se à brava com os comentários, opiniões e demais teorias que se constroem sobre ela. Acho-a mil vezes mais interessante como mulher, como pessoa, como ser humano, do que a sensaborona da irmã, sempre muito preocupada em dar ares de benfeitora. Deve ser isso que gosto na Clara. É o que é, faz o que lhe apetece, não deve ter que dar contas a ninguém, muito menos a quem não conhece de parte alguma. Já deve ter percebido há muito que a vida e a liberdade são uma e a mesma coisa, e que tudo isto é demasiado curto e exíguo para perder tempo a viver de acordo com os valores dos outros.
Clara, és a maior. Se te conhecesse, enchíamos as duas a peida de blinis e ainda nos riamos da história do plágio. Ui, rir a bom rir.
Se alguma coisa o ano que passou me mostrou com clareza, é a noção de que nada dura para sempre. Nem este blog. Quase seis anos depois da sua criação, o Cenas de Gaja termina no final de 2010, precisamente daqui a um ano.
Editei quase três livros - by the way, o terceiro só sairá na Primavera por imperativos de mercado, apenas e só - e mantenho duas crónicas regulares na imprensa. Conheci pessoas fantásticas, escrevi tudo o que queria, da forma como queria, e dei forma a demónios internos que, hoje, já não dão sinal de si. Tenho o maior orgulho da Sissi que fui, da que sou, e grande esperança no que ainda tenho para dar. Porém, tudo é transitório e o tempo desta voz com que falo deixou de fazer sentido. Já não me sinto zangada, nem olho para os homens ou para o sexo com a leviandade de outrora, e substitui a quantidade de experiências pela qualidade das mesmas. Estou mais focada, mais concentrada, e menos interessada em foder ao desbarato. Aos 35 anos, nesse particular, fiz tudo o que queria fazer e escrevi aqui uma súmula, mais ou menos real, do que se foi passando. Hoje, vou continuar a partilhar coisas convosco, mas com os olhos, a voz, a cara de quem realmente escreve e vive. É só estarem atentos ao que se vai passar nos próximos meses.
Até lá, o Cenas de Gaja termina com o terceiro livro, lá mais para a Primavera, como disse, e uma peça de teatro, no final do ano. É este o programa das festas. Das várias que aqui vos dei conta, cujo pano fecha em 2010 para abrir noutro palco. Como escreveu Charles Dickens, em Tale of Two Cities, «foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos».
Obrigada. Mesmo.
Até já.