cenas de gaja

Há quem tenha Nespresso, Bimby, máquina de fazer pão e outros gadjets que se destinam a, supostamente, melhorar-nos a vida e fazer-nos sentir parte do lifestyle que insistem em propalar. Há ainda quem desejasse ter e não tem estes gadjets, como se a sua penosa ausência significasse não participar do staus social e da engorda do extracto do cartão de crédito.

Aqui no Palácio não se respira esse ar. Anos depois, converti-me à contratação de proletariado para limpar os vidros palacianos embaciados por suspiros profundos. E como tudo na minha vida tem aroma de nonsense, exonerem a Bimby, esqueçam a Nespresso, caguem na máquina do pão. Quem tem uma Vanuza tem tudo.

Vanuza de Todos os Santos, de seu nome, natural de Minas Gerais, é mais nova governanta do Palácio Real. De tez morena e farta cabeleira negra, Vanuza é um filme. Cómico. Sobretudo quando consigo perceber o que ela me diz. Ora eu, pouco treinada nesta coisa do povo a mexer-mes nas sedas indianas e algodões egípcios, advertia-a de imediato: «Vanuza, é para limpar tudo. Excepto as jóias da Coroa». E indiquei-lhe um pequeno baú, fechado, onde guardo todos os brinquedos com os quais entretenho as visitas, que são for my eyes and hands only. Ao fim de uma hora, estava eu estendida no sofá a ver a Oprah, quando Vanuza me chama:

- Dôna Sissi, qué qeu faço mermo com os vibrádôr aí? A Sinhora qué qeu puxi luistro?

Com mil cagalhões! Descoberta! Careca à mostra! «Nãoooo Vanuza, deixe estar, obrigadíssimmmaa...»

No final, piscou-me o olho e saíu.

Tenho para mim que esta Vanuza é um pratinho cheio...

Bem sei que o país está em crise, o mundo também, que os olhares estão cabisbaixos e a serenidade e o optimismo não imperam. Porém, dentro destas paredes quentinhas no novo Palácio em Campo de Ourique, o ar é de esperança. E de muita felicidade. Não há mouro na costa. Só muito contentamento por estar viva. Amanhã retomo as emissões.

Se há assunto fracturante na vida de casal, tema que leva a quezílias e discussões evitáveis, motivo de conversa ou de segredo que nem sempre acaba bem, esse assunto é a pornografia. Amada por uns, odiada por outras, homens e mulheres vêm filmes diferentes quando assistem a uma película do género. Isto, claro, se a coisa se se chegar a dar. Porque se os machos são mais afoitos na procura deste ramo da Sétima Arte, já o grelame não quer nem ouvir falar.

Há uma coisa que vocês, Súbditos da devassidão, têm que perceber em relação a este assunto: a cabeça das mulheres opera de forma diferente da vossa no que toca ao que as faz titilar. Enquanto o vosso mangalho cresce ao simples vislumbre de uma mama de silicone que abana ou de um triângulo perfeito de pilosidade púbica, o grelame precisa de mais. De muito mais. Ela não quer saber se o mangalho é grande e duro, ou se a língua trabalha a uma cadência aceitável. A gaja precisa de sentir que ali há amor, carinho, romance, e, sobretudo, precisa de saber que é diferente das actrizes com as quais vocês têm orgasmos à parva. É uma questão de insegurança. Temem a comparação. «O quê, é disto que tu gostas?», dizem, com desdém. Mas, na realidade, lá bem no íntimo, olham-se ao espelho e tudo o que vêm é a celulite e a Lei da Gravidade. Apesar de tudo, o que estimula o grelame são razões ainda ligadas ao lado afectivo do sexo, ou, no limite, a uma fantasia que não inclua anal à bruta, garganta funda ou mesmo 10 tipos de esperma a cair na cara de uma mulher. Não esqueçam ainda que as vossas mulheres foram educadas a pensar que a pornografia é uma coisa má, vil, suja, degradante para as mulheres. Se querem de facto incluí-las nesse vosso prazer proibido, torná-lo legal e acompanhado, atentem no que Sissi, Princesa da Pornografia assistida, tem para vos dizer.