O broche está subvalorizado. Não matem o broche. Não façam dele uma coisa insidiosa e percebam que ele é mais do que apenas a vontade de ter um orgasmo.
O broche não é um recurso. Não é alguma coisa a que devamos recorrer quando mais nada funciona ou quando a única parte do corpo que mexe é a imaginação. O broche não merece o desleixo e o cansaço. E muito menos a complacência dos amantes. Amigo de mão e de boca, o broche é mandado para a conversa como quem se contenta com uma lata de atum sem perceber que ali está o melhor do caviar iraniano.
E nesta confusão de sabores não há género. Tanto é o gajame macho que se entrega e se torna madraço, como o grelame fêmeo que age de forma pouco caprichosa perante a preguiça.
O melhor exemplo que conheço de maus tratos infligidos sobre o broche dá-se em início de dança. Quando a mulher faz notar que ainda é cedo para o sexo, que se conhecem há pouco tempo, que não, ela não é como as outras, ou qualquer outra ideia sobreposta à evidência «não me apetece foder nem me apetece explicar-te porquê», o macho, na sua imensa generosidade, faz saber que não tem mal, que ele também não é como os outros, ou qualquer outra ideia sobreposta à evidência «posso já não foder hoje mas um broche terei sempre».
Portanto, um broche é um second best em vez de um second to none. É o Mourinho do Barcelona, o Goebbels, o adjunto. Em casos extremos, é até o treinador de bancada. O que manifesta intenção mas, no fundo, não apita nada.
Matar o broche é também não exigir um minete. Obviamente que caminham juntos, não obrigatoriamente ao mesmo tempo ou de mão dada, mas sempre, sempre pelo mesmo traçado. É simples. Dar e receber, troca por troca. A quantas de vós, estimadas súbditas, vos foi feito um minete depois de terem feito um broche? Quantas vezes o vosso orgasmo e o vosso prazer foi substituído pelo cigarro costumeiro ou pela aniquiliadora frase «que bom...bolas, agora fiquei mesmo cansado...». Tudo isto é matar o broche. Neste caso, é fuzilá-lo por defeito do nosso próprio prazer. Porque ele as há que lhes tomam raiva e acabam por exterminá-lo por despeito.
E compreende-se.
Por tudo isto e muito mais, vive la pipe! Long live the blowjob!
Há alturas em que a vida insiste em olhar-nos de esguelha. Em que pensa que somos um cacto e que, portanto, não precisamos do conforto e do cuidado. Imprudente na sua generosidade momentânea, quase parece que nos puxa para perto para ter o pretexto de nos afastar. Há dias em que parece que podemos encantar uma cobra. Outros em que só queremos acrescentar erratas à vida.
nem sei por onde começar, mas o melhor será por agradecer a vossa contribuição para mais este capricho da vossa princesa. Tantas foram as questões recebidas que pondero alargar o horário de expediente. Para começar, darei a primeira resposta no início da próxima semana. Que é como quem diz, daqui a poucos dias. Fiquem atentos. Se entretanto não tiverem mais que fazer, obviamente.
Aproveitando a silly season, a altura do ano que mais se parece comigo, este palácio vai tornar-se, por um dia, num verdadeiro consultório sexual. Todas as quartas-feiras, qual Dra. Ruth, yours truly responderá às dúvidas e questões que os meus grandes queridos tiverem pachorra, incentivo e motivação para enviar. A cadência será igual ao ritmo sexual dos casais ao fim de dois meses de casamento: uma por semana.
Aqui assim, na varanda do Palácio, acenando às multidões que passam, Sissi Responde.
Continuando a desfolhar o catálogo dos machos, passo de um quase repelente para um quase favorito. O pinga amor. Também chamado de D.Juan, o pinga-amor é um espécime que tem um lugar especial no meu coração de princesa. Fruto de recalcamentos e medos vários, este macho tem, regra geral, bom íntimo. Qual cão de Fila, fareja o rasto da Mulher e possui o condão de transformar qualquer odor em feromona.
Laborioso, verborreico, o pinga amor é um amor. É impossível não gostar dele, não sorrir com os chistes e piadas bem metidas, com o seu sorriso matreiro carregado de boas e más intenções... Os seus dias são cheios porquanto o mundo está cheio de mulheres. Mais que gostar delas, venera-as, admira-as, estimula-as. O pinga amor pode ser o nosso melhor amigo e o nosso pior pesadelo. É difícil escapar aos encantos deste macho. Quando apenas amigo, dá-nos dicas sobre como interagir com outros da sua casta, pede-nos conselhos para melhor saber viver com o objecto de sedução do presente e chora no nosso colo se a musa inspiradora do dia decidiu não reparar na sua sombra. Chora, obviamente, até à manhã seguinte. Porque musas há muitas e os tempos não estão para grandes contemplações românticas.
Como já referi, eu gosto muito dos pinga-amores porque contribuem para que a minha vida seja mais colorida e plena de riso. Não podemos, obviamente, confiar no seu afecto como uma constante, mas enquanto olham apenas para o nosso lado, fazem de nós verdadeiros objectos de adoração e contemplação. As maiores, melhores, mais bonitas, mais elegantes, mais inteligentes. Deixamos de ter um nome e passamos a ter apenas um prefixo: Mais. Mais tudo.
E depois, um dia (há sempre um dia) que deixamos de ser as Mais e passamos a ser apenas «uns amores», «umas queridas», mas já menos amores e queridas que ontem...porque uma outra querida ou um outro amor se cruzou com o nosso pinga amor que foi fazer poesia para outras paragens. Nós ficamos desconsoladas e sensaboronas durantes umas semanas, é certo, mas continuamos sem conseguir resistir ao charme juvenil do pinga amor. Uma vez aqui, aconselho a mudança de registo. Tomem-nos como amigos, por muito dura que seja a ressaca da falta do seu estímulo e da sua atenção.
São pouco fiáveis como homens, mas muito calorosos como amigos.
Tirando os sádicos, não ha nenhum tipo de homem que me assuste. Com maior ou menor dificuldade, tenho conseguido lidar com todos os que me tenho esbarrado com os resultados que a ocasião pedia. Porém, há um tipo de gajo que, não me fazendo fugir, também não me faz exultar. Falo dos jogadores.
Concedo que todos jogamos um jogo. Uns contra o mundo, outros contra si próprios, cada um encontra como pode formas e formatos de encaixe, dependendo a ergonomia desse contorno do que estamos dispostos a fazer. No entanto, falo de uma casta de tipos que se movimenta noutro plano. Não entrando na escala da apreciação valorativa, há uma certa sobranceria no jogador. Aquela noção de que a bola está intrinsecamente do lado deles e é movimentada ao ritmo dos seus humores. Bebem da cartilha do bluff como quem bebe um copo de água e divertem-se com a sede dos outros. Transpiram peremptoriedade e retórica. Elaboram sob hermenêutica e demagogia.
Obviamente que não demonizo o jogador. Quando não é comigo até lhes acho piada. Quando não sou eu o parceiro do outro lado da mesa, consigo até apreciar as jogadas de mestre. Acontece que eu não sou uma jogadora e tenho muito pouca paciência para jogar. Aliás, precisamente porque não nasci com a capacidade de aguardar tenho pouca resistência à frustração que sempre me provocam os jogos. Não vendo resultados, ou não os vendo positivos para o meu lado, aborrece-me. Enfada-me. Claramente, eu não sei jogar.
Não nasci com esse poder de antecipação e hiperventilo com facilidade. Gosto da vida calma e gosto de a viver como ela se me apresenta. Não tenho planos para os outros, a existência deles não me atormenta ao ponto de paralizar, agindo. Não há um ponto, uma estratégia escondida, um não dito. Gosto da simplicidade de achar que as pessoas e as coisas podem ser simples.
O meu DJ de Servico colocou ali no cantante a musiquinha que me faz dancar e cantar pelos corredores do Palacio como uma louca! Liguem as colunas e toca a mexer o corpo! Um pouco roqueira, e certo, mas muito, muito energica! Beijos darlings
Qual amante velhaco, ele puxa-me para si com o calor de magma e abandona-me quando me sente rendida. Pisca-me o olho, sabido, atraindo-me de novo, e quando me vejo a aquecer o ninho diz-me que é hora de voar outra vez.
Eu, qual amante dorida com memória de tempos bons, penduro-me nela e balanço entre cá e lá. Que fazer? Prostro-me novamente aos seus pés ou recosto-me nos braços do novo amante, segura de uma existência mais pacífica? No regaço do novo interesse, a vida corre mais lesta. O nosso amor não exulta mas também não dói. Não arde mas, ainda assim, aquece.
O meu país é como um baú cheio de tesouros mas com fundo falso. Quando o abrimos reluz. Quando lhe tocamos perde força e substância. Assim sendo, como poderei considerar a hipótese de trocar a luz interior, a verdadeira, do novo amante pelo artifício de luz do amante velhaco? Simples. Foi a única que sempre conhecemos.
O encantamento é um estado perigoso. Por isso ainda não é altura de voltar.
estou de partida para um fim de semana alargado, na pátria. Voltarei algures na próxima semana. Mas antes de me ir, e correndo o risco de ser lamechas mas cagando de alto, quero apenas dizer-vos que vocês fazem deste palácio o melhor canto da blogosfera.
Se há casamento unido e bem sucedido é o que juntou o alcóol e os telemóveis. E em querendo ver um threesome bem esgalhado é misturar-lhe esse bicho raro, que tem tanto de fascinante como de carinhosamente palerma, de seu nome Mulher.
No mundo fascinante das mulheres, não é só a combinação saldos e cartão de crédito a única potencialmente geradora de mais estragos que o míssil coreano apontado aos calcanhares americanos. Não. Durante uma noite de copos, há sempre aquele momento seminal em que os responsáveis das operadoras telefónicas agradecem aos anjinhos pelo emprego que têm. Ou seja, precisamente aquele que a nostalgia e a tusa nos invadem e, inadvertidamente, tiramos o telefone da mala, em busca do antigo namorado ou apenas de alguém com quem nos tenhamos cruzado nos lençóis a determinada altura da vida. Claro que sabemos que aquela cruzada não vai a lado nenhum, mas, ainda assim, aceitamos lá voltar outra vez.
Depois de feita a triagem inicial, eliminados uns e colocados outros no saco, o festim começa. E a partir do momento em que enviamos a primeira mensagem, tudo é possível. It´s all down hill!! Obviamente que somos mais expressivas e expansivas, o alcóol tem essa capacidade, como sabemos, de dar corda a mortos e enterrados. E desde a sms inquisitiva «Onde andas?» à calorosa no género «Estou com saudades...», esta claramente a mandar a bola para o lado lado do campo, ou à explícita «Estou com tusa, já te fodia», há de um tudo. Mais telegráficas, menos descritivas, mais ou menos perceptíveis, nós gajas gostamos disto. Quando os copos já abundam no sangue e no espírito, o bip bip da mensagem é como uma caixa de música. Podemos ficar a ouvi-los a noite inteira.
Obviamente, ímpetos destes têm consequências. Cabrões que passam a objectos de desejo, sacanas egoístas que embalamos juntamente com os copos de vinho, ainda que apenas por uma noite, podem fazer mossa no calendário logístico diário. Porque, por vezes, sem querer, densenterramos machados de guerra enterrados em territórios que já tinham a nossa bandeira.
Ainda assim, e não querendo ser hipócrita, é práctica que me dá um gozo enorme. Imaginar a cara de idiota dos idiotas - sim, porque dos «bons» não guardamos memória nem números de telefone - a receber textos e subtextos de quem, em estado normal, nem olha na sua direcção.