Estava eu aqui a pensar no post anterior e nas razões que teriam levado o incauto repórter às elocubrações sobre a nossa (vossa) cidade de Lisboa, quando me lembrei do queixume diário do português médio face às dificuldades do seu quotidiano. Depois de concatenada a lista, eis as razões que fazem do meu Portugal uma Babilónia suspensa com gente estranha dentro.
1 - O GOVERNO
Com algum jeitinho e muita lata conseguimos culpar o governo por virtualmente tudo. Pelo trânsito cada vez pior, o Verão que nunca mais chega, a humidade no quarto das visitas, as ganzas de má qualidade, you name it. É uma chatice, culpa-se o governo. É uma seca, culpa-se o governo. Cheira mal, culpa do governo. Cheira bem, governo é o culpado. E se houver alguma coisa pela qual não consigamos culpar o governo, é porque estamos a olhá-la pelo prisma errado...
2 - OS PORTUGUESES
É o fado, o destino, o karma. Ser português é uma fatalidade e não se fala mais nisso. Habituamo-nos desde cedo a esta guerrilha instalada connosco mesmos e agora até lhe achamos piada. De resto, dizer mal é muito mais engraçado que dizer bem. Dizer bem não tem piada nenhuma. Dizer bem não dá para fazer piadas. Giro mesmo é dizer mal. E dá mais estilo. O tuga gosta de falar mal de si mesmo. Mas não na perspectiva positiva, de assumpção dos negativos, promovendo os positivos. Népia. Isso era fácil demais. A abordagem coitadinha é muito melhor porque é a única que permite que não se faça absolutamente nada. Se somos assim tão inúteis, para quê fazer alguma coisa? É a desresponsabilização pela piedade. No fundo até somos espertos...
3 - A GALINHA DO VIZINHO
Este item é estranho. Mas falo de bairrismo. Para os do Norte, o Poder está em Lisboa. Os do Sul dizem que no Norte está o dinheiro. Os do meio não são tidos nem achados na contenda e, provavelmente, acham-se ignorados em tão importante disputa e por isso amuam também. E assim se retalha um mapa...a erva é sempre mais verde do outro lado da cerca...
4 - O CHEFE
O chefe é como se fosse o Governo. Aliás, o chefe é o governo de cada unidade produtiva. No caso português, não produtiva. Se falta a água no prédio a culpa é de quem? Do chefe, obviamente... se fazes muitas pausas para cigarros e café e és repreendido, a culpa é do chefe que é um cabrão dum insensível que não percebe que as pessoas têm vícios. Se não foste escolhido para aumentos nesse ano porque produzes menos que os outros, a culpa é do chefe porque a tua cadeira não é ergonómica e as colunas do PC não funcionam. Uma unidade não-produtiva como um escritório típico português é um mini-governo com uma mini-população.
Vinha eu ontem no metro, depois de mais um fim de tarde no pub, quando dou de caras com uma das muitas publicações gratuitas existentes em Londres. Chama-se City A.M - Businsess With Personality, e é, a par do Metro, o jornal mais lido entre as pessoas que não se dão ao trabalho de comprar jornais e ler notícias decentes.
Ora, estave eu a descansar os glúteos das caminhadas costumeiras, quando abro o dito jornal na página 14 e me deparo com uma peça sobre Lisboa, escrita por alguém que tinha visitado essa muy nobre cidade e decidiu juntar umas palavras sobre ela. O título, por si só, já diz alguma coisa: Lisbon, Portugal´s Sleeping Beauty... Pensei logo que, talvez, o rapaz quisesse dizer que a cidade parou no tempo, facto que só quem aí vive sabe ser verdade. Depois achei estranho que se tivesse deslocado a Lisboa de comboio, via Madrid, mas depressa me lembrei que a vida está má para todos, e que, dentre a plêiade de companhias low cost a operar no mundo inteiro, que eu saiba, existem apenas duas a operar de Londres para Lisboa, deixando a capital de fora do roteiro turístico para uma grande maioria de pessoas.
Facto incontornável, também ele referido no texto, a luz de Lisboa, fenómeno que nunca percebi até chegar a Londres. Acknowledge... Há o Tejo, os taxistas em Mercedes velhos, o Bairro Alto, Alfama, que saudades! Até aqui, o rapaz esmerou-se. Mas depois resvala para outras realidades, passo o pleonasmo, duramente reais...deixo-vos em discuro directo:
« I came to Lisbon expecting to discover a city enjoying an age of renewal and rejuvenation and there is certainly a modern city to be found, but as the day wears on I realise that the sleepiness I attributed to the early morning was not fading fast»
«However much it may have changed in recent years there are plenty of derelict buildings covered in graffitti and crumbling tarmacs to negotiate; there is not the sense of energy and excitement that surrounded places like Barcelona 10 years ago. Even the strong economic growth spurred on by European Union membership since 1986 seems to have run out of steem.»
Não se pode dizer que o rapaz não é observador e não fez o seu trabalho de casa. Quanto a mim, remata em grande estilo, depois de elogiar os Pastéis de Belém e chamar à torre do bairro «the most beautifiul sea defence in the World»:
«Portugal hasn´t been a world-beater since the heady 17th century, and, as I steadily relax into Lisbon´s laid back atmosphere, I realise that it is not likely to be any time soon.»
sissi - ok, listen. I invited you for a nice evening two days ago, invitation that you couldn´t be bothered even to say yes or no, and now you´re telling me that?
toy boy - C´mon...you know you want it...
sissi - maybe I didn´t explain myself properly... I´m a 31 year old woman. I´m bright, well educated, degree and post-graduation and all that shit, cultivated, polite and funny kind of person. Plus, I´m attractive, sexy and very good in bed, as you know... So, given this and all the present situation, would you be so kind to explain me why the fuck should I give you the time of the day...?
...prepara a sua enésima chávena de Earl Grey e semi-skimmed milk, enquanto a Joni Mitchel e o Herbie Hancok tocam uma versão muito própria do Summertime. De volta a sala, observa as crianças a brincar no parque e Primrose Hill parece-lhe mais bonito que nunca. O Summertime deu lugar ao ritmo pausado e meloso da Jill Scott que canta He Loves Me...O Sol entra pelas grandes janelas da casa, envergonhado e a medo. É sábado e fora dali Londres está frenética, como sempre. O telefone toca:
A pornografia é uma coisa bonita. Que me desculpem os Torquemadas, mas essa nobre arte, tantas vezes injustamente esquecida, foi das melhores coisinhas que Vénus no mundo plantou. E não falo apenas das óbvias qualidades de tais películas. Se nao fossem os filmes porno como saberia eu o que sei hoje a esse respeito? Como teria eu discorrido, por exemplo, que a dupla penetração é uma coisa maravilhosa, a ver pelo ar regalado das performers? Como saberia eu executar um bom felatio com que tenho deliciado tanto jovem por essa Lisboa e Londres fora? Como entenderia eu o significado do conceito de «prazer no trabalho»? E poderia continuar. Tudo para chegar à conclusão que a pornografia, quando não entra no plano da parafilia, é uma arte que deve ser acompanhada e estimulada.
Tenho este sonho de um dia organizar os Óscares dessa nobre indústria, que tanto emprego dá a tantas outras famílias, que lhe põe a comida na mesa porque as coloca comidas na cama e tantas horas de prazer proporciona aos milhões espalhado pelo mundo. Aliás, mais que o futebol, a pornografia unifica povos, põe termo a guerras, acaba com a fome (pelo menos com algum tipo de fome...). Por isso tenho esta vontade de levar a cabo tão honroso empreendimento de premiar os interlocutores, os agentes de mudança, os heróis de tal metamorfose global.
E parece que já me estou a ver. No Animatógrafo, vestida de Madame, courtesy of Agent Provocateur, mirando do meu púlpito uma plateia de silicone. Sim, porque saberemos que a nossa indústria porno vingou quando as nossas actrizes conseguirem elevar os peitorais acima da linha de água, ie, acima do umbigo. Tergiverso. Cá de cima, olhando de soslaio para a plateia, ia chamando os nomes e entregados prémios:
«E para a categoria de melhor broche os nomeados são: Jessy Knight, Valéria Crystal, Cinde Filipa e Jo Jo» Depois eu diria o nome da laureada e ela faria um discurso emocionado. Começando por agradecer aos pais pela oportunidade que lhe deram de «mamar no piço» (sic) do primo Ricardão, pela primeira vez, aos 15 anos. Ao dito por tê-la deixado fazer enquanto ele via o Benfica-Dragões Sandinenses para a Taça de Portugal, e ao seu companheiro Joca, por naquela noite fazer 3 meses que nao consumia. E acabaria com um «Suck dick rocks!!» emocionado e pungente, que isto é uma gente que leva a profissão muito a peito...
E no fundo é isto. Gostaria de homenagear as pessoas que, literalmente, já me deram, e continuam a dar, tantas horas de prazer e me ensinaram tanto. Se não existissem os filmes porno eu seria mulher menos qualificada, e isso nunca caralho!
A febre clubística é uma coisa que ou se tem ou não se tem. Não se arranja, não se compra na esquina, não se trafica, não se empresta. É como a sensualidade. Ou se nasce com ela ou já não cresce. Mesmo que tenhamos um lugar cativo ou um decote generoso, se a paixão não vier de dentro ou as mamas não forem decentes, não colhe. A modéstia impede-me de dizer que nasci abençoada pelas duas, mas como me fica mal, agradeço apenas ao meu pai ter tido a feliz ideia de me levar a ver o meu primeiro jogo do Sporting com apenas seis tenros anos. Obviamente, antes disso já me interessava pelo jogo em si. Já pedia ao meu irmão mais velho para ir jogar à bola para rua com ele e com os amigos dele. Claro que ele dizia sempre que não. Afinal de contas, quem é que quer andar com a irmã ranhosa atrás? Ninguém. Claro. Mas cresci com esta vontade, sempre verde, de viver a vida do clube em todo o seu fervor desportivo. Por isso decidi desde cedo que o meu primeiro emprego seria lá. E foi. Esta obstinação trouxe-me alegrias e tristezas, exaltações e contemporizações várias, num misto de coisas que hoje vivo à distância mas com o mesmo torpor clubístico.
Ontem fui ver o Benfica à casa do Sporting. Fica em Notting Hill, claro, que a betice pega-se além fronteiras. Eram, obviamente, benfiquistas os que se encontravam lá. Mas em tempos de cries, ie, em cidades como esta onde a comida é uma merda e não há RTP, tudo vale, até ir até ao «covil da lagartagem» como chamou um madeirense aqui exilado vai para 31 anos. Já há muito que não vou a Alvalade e já me tinha esquecido do colorido que é ver um jogo de futebol ao lado do tuga. Este foi ainda melhor, porque foi ao lado do tuga emigrado. Este assunto ficará para outro post, até porque já tenho mesa marcada para Sábado para ver o Sporting ganhar ao Porto e ficar mais perto de vencer o Campeonato. Mas posso adiantar que há de um tudo...e é do melhor... Quanto ao jogo, o Barcelona ganhou e o Benfica perdeu. É tudo o que sei. Estive muito ocupada a ver as taças, os cachecóis, os emblemas, as bandeiras, os autógrafos, as fotografias, os...
Mesmo fora de casa as contradições são um must: vou ver o Benfica à casa do Sporting. E levo cachecol. Dos verdes, claro. May the games begin! Amanhã post a condizer.