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Out05
A Verdade da Mentira
sissi
Ontem à noite, à conversa com novos e velhos amigos, bati de frente com um assunto que me desperta grandes dúvidas e reflexões interiores. Devemos nós dizer a verdade sem mais? A coberto de uma amizade, devemos dizer sempre aquilo que pensamos a respeito da pessoa que nos ouve, ou douramos a pílula com manobas palavrosas de contorno de obstáculos emocionais, nossos e deles?
Tenho como certo que uma das poucas obrigações que temos para com os outros é tentarmos ser o que somos no maior número de situações possíveis. Para isso, é necessário que digamos o que pensamos, mesmo que isso tenha consequências nefastas. Chama-se a isto estupidez pura, grupo restrito do qual faço parte e sou presidente da mesa da Assembleia Geral! Porque, de facto, e se pensarmos nos nossos amigos, por exemplo, quem caralho é que quer ouvir dizer que a relação que tem não é boa, o companheiro não é o melhor, mesmo que até um cego consiga ver? Ninguém. Ninguém gosta de ser confrontado com aquilo que lhe dá muito trabalho a empurrar para o fundo do saco. Preferem um chiste bem amanhado a uma observação mais colocada, um sorriso complacente a um franzir de testa preocupado. Na verdade, todos nós temos as nossas mentiras e isso eu aceito. O que me parece estranho é que não tenhamos um lastro, um barómetro, interior ou exterior a nós, ou que, possuíndo-o, o rejeitemos por razões que, sendo legítimas, são conjunturais e, como tal, temporárias. E por outro lado, quem somos nós para opinar de forma tão intensa sobre a vida de outra pessoa, para largarmos uma bomba sem saber se aquele terreno volta a ser arável?
A Verdade é uma coisa perigosa que não é apanágio de ninguém. É, a mais das vezes, uma arma de arremesso, qualquer coisa que se entende possuir erradamente. Acharmos que sabemos a verdade dos outros, mesmo que ela seja muito evidente, é de uma sobranceria e arrogância em que caímos todos. É um paliativo na fímbria da maldade.
De facto, a nossa Verdade, por mais mentira que seja, é a única situação realmente intrínseca que tomamos como certa.