Ontem dei por mim a a pensar na sorte que tinha. A cogitar que dentre os cães do mundo, de todos os países e continentes, ilhas, ilhotas, ilhéus, principados, de todas as pessoas e de todas as raças, foi-me calhar a cadela mais bonita, querida e inteligente da vida do mundo dos vivos.
Isto é que é a chamada «sorte».
É tão riquinha, tão riquinha, que passo o tempo a fazer-lhe festas e a dar beijos no focinho. Ontem, ao olhá-la pela enésima vez (e nunca serão demais), dei por mim a sorrir e a pensar que gosto mais dela que da larguíssima maioria das pessoas que conheço. O meu afecto é, largamente, canalizado para ela, num amor que em nada difere daquele que sinto pelos que me são próximos. Caguei se soa mal. Mas não há nada como chegar a casa e ter aquela gordalhona, com cara de parva a olhar para mim (isto são tudo palavras carinhosas...), já de bola na boca prontinha para a depositar aos meus pés, da mesma forma que deposito nela o meu cuidado maternal. É uma troca de afectos, portanto. Eu cuido dela, ela cuida de mim, de uma forma que só o animal e o dono entendem.
A minha Pipa é do melhor. É uma Labradora amarela, que de loira burra não tem nada. Um dia destes coloco aqui a foto da cadela real.