Iniciei há algum tempo um processo e caminho terapêuticos que deitam o meu corpo no divã para que a minha cabeça possa voar mais longe. É esse o espírito da coisa. Ouvir uma voz atrás da nossa cabeça para que aquela que a povoa por dentro possa sair mais clara e cristalina.
Fã que sou dos filmes do Woody Allen, estava acostumada ao cliché inerente à psicanálise muda. Aquela em que o paciente é deixado ao vogar dos seus pensamentos, não raras vezes, desconexos e sombrios, sem que haja uma palavra que o questione e se faça luz. Aliás, questionar é o conceito centralizador do processo. Pelo menos daquele que é honestamente conduzido pelas partes em terapia. Eu e ela. Estar em processo terapêutico não é mais que deixar que alguém nos ajude a pensar sobre nós mesmos.
Obviamente, procurar ajuda é também esperar resultados. E eles aparecem. Suponho que, no meu caso, não estava preparada para tamanha mudança porque nunca pensei que deixasse tanta coisa e tanta gente para trás. Não no sentido não valorativo de ignorar a sua importância formativa, mas apenas porque deixou de fazer sentido a forma como sempre nos relacionámos. De uma forma ou de outra, passamos a vida a ser deixados e a deixar alguém, por um conjunto gigante de razões. Importante mesmo é que a vida faça sentido.
Com ou sem divã.