Carta aberta ao meu velho amor
Caro Sporting,
acho que desta é de vez. Depois da forma como te tens comportado nos últimos anos não me resta mais do que olhar-te nos olhos e dizer-te adeus. E escusas de vociferar. Já nem o teu rugido se ouve. Estás de quatro e ainda não percebeste. Já todos te gozam. Até os labregos do Benfica, filisteus desportivos, gentalha do garrafão e da bifana, até esses te olham sobranceiros, da margem sul da segunda circular, e se riem de ti.
Empate com o Nacional? Numa noite já fria em que nem o suposto aconchego do camarote barrica o gelo que se sente a cada golo adversário? Só podes estar a gozar comigo. Eu, tua adepta dedicada, sócia há 36 anos feitos há dias, que, durante anos, fiz do falecido estádio de Alvalade a minha casa, quer por via profissional, quer desportiva, que ganhei medalhas em teu nome, que escrevi os primeiros artigos nas já amarelas páginas do Jornal Sporting, que engatei, com sucesso, o meu primeiro jogador da bola à porta da 10A, TU AGORA FAZES-ME ESTA MERDA, CARALHO?
Esquece-me. Fartei-me. Não, não, não há outro clube. Deixo-te as chaves do camarote nas meninas que estão à entrada. E já agora, diz-lhes que elas não sabem temperar um sumo de tomate comme il faut. But then again, comme il faut é qualquer coisa que há muito já te abandonou.
Esforço, dedicação e devoção tem um certo na minha lista. A ti, bastava-te a glória. Domage. Pode ser que para o ano lá volte. Ou não. A ver.