Cá merdas minhas
Dentre as muitas qualidades que me integram, a paciência nunca foi uma delas. Saber esperar é uma arte secreta que, na minha cabeça, sempre esteve guardada para os outros. Os que, dir-se-ia pelo estoicismo com que aguardam a vida, sabem coisas que eu desconheço, segredos que a minha cartilha não viu impressa. Ser paciente é ter confiança. Em si mesmo, nos outros, no Universo. Mas é, sobretudo, conseguir perceber que só o tempo torna tudo mais claro, daquela claridade que nos faz, subitamente, dar passos em frente com a certeza da mudança de luas e diferença de marés.
As relações, sejam elas quais forem, precisam de tempo. Nós todos precisamos de tempo uns com os outros. O próprio tempo precisa de calma no seu vogar e de não ser apressado. Parece-me pacífico e consensual. Assim sendo, porque raio, d'un coup, mergulhamos em histórias mal contadas, mal paridas e, no final, tão mal vividas? Como diz a canção: «first we take Manhattan, then we take Berlin». Mas não. Primeiro tomamo-nos de assalto, ao reclamar para nós a vivência das falácias que aprendemos a ouvir, e depois tomamos os outros de assalto, com as consequências que essas ideias pré-concebidas acarretam.
Exemplo? Simples. As metades da laranja. A pessoa que completa. O outro que é «tapa buracos». Os filmes e as músicas que ouvimos fodem-nos muito a cabeça. Estou por descobrir as letras que dizem: «o outro não é fita isolante». «O outro não tem culpa da minha falta de pai e mãe». «O outro existe por si só, respira sozinha e anda pelo seu pé. Ah, e já agora, eutambém.» Não me convencem com esta coisa do amor mágico. O que me obriga a desaparecer na pessoa com quem vivo para ser uma metade. Que caralho é isso? Eu sou inteira. E procuro um inteiro. Sou das que constrói e que adiciona. Na minha tabuada, um mais um serão sempre dois. Dois.