Querido Diário #1
...assim contadinhos, devem estar uns 75 graus em Madrid. De manhã. Depois à tarde aquece um bocadinho. Oscilo entre a vontade indómita de foder as rótulas a todos os pedintes sul-americanos que me atravessam o passo na Calle Goya, e uma outra vontade, que é a de me perder em sessões de meditação no Retiro e rumar aos sítios onde as pessoas que fazem meditação rumam.
Não saber o que fazer à vidinha tem coisas engraçadas. Mormente - palavra odiosa mas que, nestes dias, me apetece sempre usar - há um certo «tou-me a cagar geral» que inunda tudo. E não é mau. Por exemplo, hoje andei de micro calções de ganga e t-shirt de alças pelas calles madrilenas, parecia eu que estava numa qualquer sandy beach - não confundir com Sandy bitch. Ora, ao pé das espanholas, sempre todas montadas, indiferentes à canícula ou à intempérie, eu era um retrato fiel da femme de ménage parisienne. Importei-me? Não. Fez mossa? Este texto de merda serve o mundo em algum dos seus latos propósitos? Não. Saquei um número de telefone enquanto apanhei sombra no Retiro? Sim. Não é despiciendo, porem, o facto de, no Retiro, até as velhas ciganas que vêm o futuro em cascas de batata e baba de caracol se orientarem.
Dito isto, Querido Diário, nada mais a reportar. Vou ali pró terraço continuar a fumar cigarros e a emborcar água fresca com limão, na esperança que o vizinho de cima venha sufocar à janela.
Tua, monissima,
Sissi