Ciúmes e vuvuzelas
Não há sentimento mais estúpido e enganador que o ciúme. Mau grado todos já termos provado do seu sabor e cheiro pestilentos, a ciumeira é um bocado como os tomates. Não é porque lá estão que temos que os abocanhar sempre que nos baixamos para fazer um broche. Que é como quem diz, não temos de entrar nesse faux pas só porque ela, aparentemente, faz parte de uma moldura maior a que se chama de relacionamento.
E não há pensamento mais pequenino, mais comezinho, mais desprovido de interesse que aquele que alimenta e acarinha ideia de que quem ama tem ciúme. Se há coisinha que me faz carregar a G3 e preparar caça ao homem é esse dourar de pílula abortiva de afecto. Porque o ciúme só prova duas coisa: que os nosso níveis de segurança estão em baixa e que, apesar dos pesares, ainda achamos que as relações não têm prazo de validade, logo, passamos os anos bons da dita a ansiar que o inexorável não chegue. O que é parvo. É como enfeitar os nossos dias a tentar não morrer.
Logo, tendo isto como premissa, ter ciumes é não conhecer o outro e não se respeitar a si mesmo. É ainda não entender que vão sempre existir mulheres melhores e mais bonitas e boas que nós, e, pasme-se, homens melhores e mais bonitos que os que temos. Porém, se eles lá estão em casa, se nos permitimos partilhar o ar com quem respira na nossa direcção, o melhor mesmo é fazer dele uma colónia doméstica. Fresca sempre que houver tempo e vontade para isso, ou clássica, quando o moderno não tiver lugar.
A ansiedade é uma filha da puta. Come-nos e obriga-nos a ser autofágicos. Vivemos encaixados, acoplados a um medo que, de tão pensado, torna realidade uma profecia que só tem sumo se o quisermos espremer. Aliás, o ciúme é a vuvuzela das relações. O seu barulho ensurdecedor não permite ouvir mais nada. E muito menos festejar os golos da equipa composta por dois.
Onde é que anda o botão do silêncio?