What´s in a fart?
Há algumas funções corporais e biológicas, que apesar de serem por todos praticadas com brio e regularidade, são injustamente mal afamadas. Falo do peido. Esse gás metano que se expele amiúde, mal nomeado e embrulhado em falta de educação, mas cujo uso numa relação a dois pode fazer maravilhas pela sua continuidade de forma concreta e sólida.
Se não, vejamos. Há alguma coisa mais geradora de riso em situações de conhecimento inicial do que o peido? Não, não há. Há alguma bufa mais bem metida do que aquela que se dá quando a relação já navega por mares serenos e suaves? Não, não há. Libertar um peido à frente da pessoa de quem se gosta e a quem, por consequência, se quer impressionar, é uma prova imensa de segurança. O que esse odor, na realidade, traz escrito é «gosto de ti e de mim o suficiente para ultrapassar este momento com a souplesse de um bailarino russo». E pronto. Umas gargalhadas semi-envergonhadas mais tarde já ninguém se lembra, o peido está dado e, se pensarem bem, há uma qualquer barreira invisível que foi abaixo, mau grado o cheiro que ficou.
E a bufa conhecida? Aquele que é verdadeira argamassa de relações de anos. Cujo aroma a flores envelhecidas encerra a mensagem «estou seguro disto o suficiente para me peidar à parva, mas não tanto que evite este pensamento». Umas de nós fingem um amuo, outras amuamos mesmo, mas todos sabemos que uma bufa numa relação significa que a coisa é séria. Ou está para se tornar.
O cheiro que vem das entranhas, ao invés de um presente envenenado, pode perfeitamente ser o perfume de cada relação. Agora cabe-nos decidir de que forma nos ataca as narinas.