Ironia em jeito de TPM
E de repente, ser inteligente é mais importante que tudo o resto. Na nossa escala de avaliação alheia, o primado do intelecto vigora sobre todas as outras características, afectivas e emocionais, como se as sinapses e os neurónios explicassem e resolvessem todas as dores.
Num tempo em que andamos todos desencontrados, com medo de nos espetarmos sozinhos na primeira curva afectiva, premiar a inteligência como factor supremo de interacção e ligação humana ate me parece normal. Escudamo-nos na verborreia, na assertividade, na conclusão fácil e rápida, na capacidade com que relacionamos assuntos e matérias, como se também isso não tivesse, como tudo, uma base emocional. Espantamo-nos com os predicados racionais dos outros e isso ofusca e sublima o que (também) faz de nós pessoas. No limite, agarramos sem largar o que nos parece mais concreto, mais visível, e obliteramos, por completo, o que nos distingue uns dos outros.
É irónico. Mas real.