As faces dos outros
Estava a pessoa descansadinha a encher a peida com blinis e café do bom, entre as quatro paredes quentinhas do palácio, quando um aroma a hipocrisia nacional entra pelo buraco da fechadura real e me empesta o ar, perfumado com sândalo e flor de laranjeira. Fui ver, eram as caras de prazer da Clara Pinto Correia, que estão a gerar o brado pífio do costume, debaixo dos saiotes da (in)dignidade lusitana.
As fotos da verborreia são estas. Se as acho bonitas? Não. Se tenciono ir ver a exposição? Também não? Se acho extraordinário que as tenha feito, sendo uma figura pública, cagando de alto para tudo e todos? Acho. Acho mesmo que é do caralhão. E acho mais. Acho que a Clara de louca tem muito pouco. Acho que deve rir-se à brava com os comentários, opiniões e demais teorias que se constroem sobre ela. Acho-a mil vezes mais interessante como mulher, como pessoa, como ser humano, do que a sensaborona da irmã, sempre muito preocupada em dar ares de benfeitora. Deve ser isso que gosto na Clara. É o que é, faz o que lhe apetece, não deve ter que dar contas a ninguém, muito menos a quem não conhece de parte alguma. Já deve ter percebido há muito que a vida e a liberdade são uma e a mesma coisa, e que tudo isto é demasiado curto e exíguo para perder tempo a viver de acordo com os valores dos outros.
Clara, és a maior. Se te conhecesse, enchíamos as duas a peida de blinis e ainda nos riamos da história do plágio. Ui, rir a bom rir.