Quem tem uma Vanuza tem tudo #1
Há quem tenha Nespresso, Bimby, máquina de fazer pão e outros gadjets que se destinam a, supostamente, melhorar-nos a vida e fazer-nos sentir parte do lifestyle que insistem em propalar. Há ainda quem desejasse ter e não tem estes gadjets, como se a sua penosa ausência significasse não participar do staus social e da engorda do extracto do cartão de crédito.
Aqui no Palácio não se respira esse ar. Anos depois, converti-me à contratação de proletariado para limpar os vidros palacianos embaciados por suspiros profundos. E como tudo na minha vida tem aroma de nonsense, exonerem a Bimby, esqueçam a Nespresso, caguem na máquina do pão. Quem tem uma Vanuza tem tudo.
Vanuza de Todos os Santos, de seu nome, natural de Minas Gerais, é mais nova governanta do Palácio Real. De tez morena e farta cabeleira negra, Vanuza é um filme. Cómico. Sobretudo quando consigo perceber o que ela me diz. Ora eu, pouco treinada nesta coisa do povo a mexer-mes nas sedas indianas e algodões egípcios, advertia-a de imediato: «Vanuza, é para limpar tudo. Excepto as jóias da Coroa». E indiquei-lhe um pequeno baú, fechado, onde guardo todos os brinquedos com os quais entretenho as visitas, que são for my eyes and hands only. Ao fim de uma hora, estava eu estendida no sofá a ver a Oprah, quando Vanuza me chama:
- Dôna Sissi, qué qeu faço mermo com os vibrádôr aí? A Sinhora qué qeu puxi luistro?
Com mil cagalhões! Descoberta! Careca à mostra! «Nãoooo Vanuza, deixe estar, obrigadíssimmmaa...»
No final, piscou-me o olho e saíu.
Tenho para mim que esta Vanuza é um pratinho cheio...