Para a minha Mana Cavaleira
"The horror of that moment," the King went on, "I shall never, never forget!" "You will, though," the Queen said, "if you don't make a memorandum of it.
Lewis Carroll, Through the Looking Glass, 1872
Meu amor,
é mesmo isto. Não há nada que possamos fazer quando a pessoa que pensamos amar para sempre nos diz que há outras paragens que vale a pena conhecer e que nós não estamos lá. Depois, cai-nos a ficha e pensamos que morremos, que nunca mais vamos gostar de alguém assim, que não somos dignos. Revisitamos lugares para memória futura, choramos, berramos, desesperamos. Prosaicamente, não comemos, não pensamos, não somos nós. Somos outros de quem a vida, de repente, se esqueceu.
E um dia, a mesma vida que nos tirou o sorriso volta a colocá-lo, lentamente, pé ante de pé, mais brilhante e bonito que nunca. O que ficou de permeio é uma enorme montanha russa manobrada pelos tropeços da memória e dos nossos próprios demónios combinado com um punhado de bons amigos cujas existências alugamos em prol do nosso bem-estar.
Aconteça o que acontecer, promete-me meu amor que o teu diário não vai ser um «memorandum» de dores refervidas, como diz a rainha no conto do Lewis Carrol. Promete-me que as tuas páginas vão ser alvas e bonitas, tal como tu.
Cá estarei. Não como sempre, nem como dantes, mas como daqui para a frente.
Tua,
Sissi