Danger, Danger!
Ontem à noite na SIC debatiam-se os perigos da internet, num debate onde participavam Moita Flores, Rogério Alves e José Gameiro. A páginas tantas, ouve-se o primeiro, presidente da Câmara de Santarém, ex-inspector da PJ, autor com livros editados e guionista de TV, lançar para o ar a seguinte boutade:
«As pessoas que colocam nos blogs a sua vida são narcisistas e solitários».
E continuava a sua diatribe, ao melhor estilo ditador e ex-bófia, sobre os terroristas que invadem as nossas ondas virtuais, assim como outros meliantes de reconhecida craveira, e que, por isso, e aqui está o catch da coisa, a Net devia ser controlada. Portanto, tanta verborreia idiota para chegar a este ponto particular: a internet, umas das melhores coisas que o mundo civilizado já viu (mau grados as suas consequências nefastas) deve ser monitorizado por pessoas como o Moita Flores, que ainda sofre de uma febre conspirativa que insiste em propalar nas televisões.
O que o senhor Flores se esquece, é que a internet é uma forma de comunicação extraordinária e uma fonte de partilha de conhecimento sem paralelo. E sim, fez maravilhas pela vida de muita gente que, escudada pelo ecrã de um computador, comunica da forma que mais lhe apraz e serve.
É claro que nem tudo são Palácios como este. É óbvio que a internet permite e potencia idiossincrasias do comportamento humano que gostaríamos de esquecer. Mas a lupa que deve olhar para isso é a nossa, a de cada um, a da liberdade individual, livre arbítrio e capacidade de decisão. Se há miudas de 13 anos a colocar fotos desnudas na net, reclame-se controlo parental. Eles são os únicos com legitimidade para decidir quando basta.
Em suma, à excepção de fotos das crianças nos blogs (à qual me oponho por não me parecer que elas tenham sido consultadas na matéria), cada um faça o que bem entender. Não entendo o alarido. Os blogs reflectem a nossa vida, o nosso interior, o que somos e fazemos. Dentro e fora do ecrã. A mais das vezes, a diferença não é assim tanta. Os blogs constroem o nosso quotidiano e são construídos por ele. Se isto é mau, bom ou assim assim, cabe a cada um decidir. Sem merdas.