Modernas ou talvez não
O advento da nova mulher trouxe-nos coisas boas. A independência, ou a aparência dela, é uma delas. Podemos, ou achamos que podemos, ser aquilo que quisermos, sem que isso seja uma fatalidade ou uma âncora que carregamos para a vida.
Como se sabe, a liberdade é um valor bonito em absoluto mas que convém lidar com cuidado. É aditiva, leva a excessos, e a simples ideia de que fazemos porque podemos trilha caminhos perigosos.
O campo da sexualidade é quem mais tem privado com esta novel condição. De submissas passámos a activas num piscar de olhos e muito se perdeu nesse caminho de desembaraço social e afectivo. Perdeu-se uma certa feminilidade, a delicadeza do gesto, o glamour e a beleza de sermos o belo sexo. Claro que tudo isto é recente e por isso ainda acertamos as agulhas que definem o equilibrio entre o que queremos e o que parecemos. E depois caímos em excessos, sobretudo quando não temos arcaboiço e jogo de cintura para os aguentar.
Quando nos mandamos à parva para cima de um tipo, quando achamos que porque somos gajas e modernas e não queremos mais nada que não foder e ainda assim levamos um rotundo não, ficamos fodidas. Aliás, não fodidas. E ressabiadas. E achamos logo que, das duas uma, ou é paneleiro ou idiota ou qualquer nome carinhoso destes. Ora, porque raio não há-de um gajo querer foder comigo, que até nem lhe vou ligar mais ou mesmo que ligue nunca vou querer ser namorada dele, cruz credo, isso é para as outras as cornudas, que cada um sabe de si e eu só quero saber de mim?
É obvio que os tempos em que bastava abrir as pernas eram tempos felizes. Mas eram sobretudo falíveis. Na realidade, quando tínhamos o comando remoto da piça alheia não sabíamos exactamente porque razão eramos fodidas. Havendo pau tudo marcha.
É preciso mais do que uma aparente modernidade para levar um não de perna aberta e sair de sorriso sincero nos lábios. Pois é. São precisas muitas negas.