Fodas Cegas
Os dias apressados relegaram a calma. As noites cansadas obnubilaram a vontade. As fodas esqueceram a cadência. O novel desejo matou o erotismo. O sexo moderno é cego, surgo e mudo porque não contempla a faceta erótica como catalizadora de um acto que é tudo menos mecânico.
Muitas fodas depois, pergunto-me porque razão me é cada vez mais difícil ficar satisfeita. O que me terá feito sair a meio das últimas duas ocasiões, depois de dadas as indicações e sinais sonoros. «Espera, vou mostrar-te onde é» soa a ofensa aos ouvidos sensíveis de alguns homens. Como se com isto não estivéssemos a contribuir para o bem comum, meu e dele. Não. Reparo, com desprazer, que há homens que estão cada vez mais cheios de si mesmos, que não aceitam indicações nem toleram opiniões.
O mais engraçado é que depois, quais anjinhos barrocos, ainda atiram um «mas tu não estás molhada» como se humidade nascesse por combustão espontanêa,. Questionando, retiram-se desse processo com pouco garbo e gentileza. Onde ficam os beijos no meio disto tudo? A curiosidade em descobrir o corpo do outro? Em tocar levemente para permitir sentir? No fundo, onde caralho ficou o erotismo? Claro que se depois de dadas instruções o parceiro insiste em navegar pela faixa da esquerda a quarenta à hora, não me resta senão levantar-me, agradecer i ir-me embora. Já lá vão dois, só nos últimos tempos.
E se me perguntarem não receio explicar que em vez de fodas cegas prefiro preliminares de olhos abertos, que opto sempre por um toque intenso a um beijo mal dado e que os meus neurónios ainda lembram o 9 Semanas e Meia com carinho.
