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cenas de gaja

03
Mai07

Sissi Responde - It Takes Two to Tango

sissi
Sou casada há cerca de vinte anos. Passei com este homem quase metade da minha vida. Juntos vivemos alguns períodos de dificuldades e sempre trabalhámos juntos (e muito) para termos a estabilidade económica e a qualidade de vida que hoje temos. Todas estas etapas que percorremos podiam ter-nos aproximado mais, como companheiros e cúmplices, mas tal não aconteceu. Talvez por sermos muito diferentes, por não termos muitos interesses, hobbies e relações de amizade em comum, fomo-nos afastando ao longo do tempo, sendo que nos últimos anos a nossa rotina alterna entre fases de grandes discussões e períodos prolongados de indiferença e silêncio.

De cama, nem vale a pena falar. É lá que se reflectem todos os nossos desencontros e a vontade (especialmente a minha) é pouca ou nenhuma. Tenho a CERTEZA ABSOLUTA que ele já NÃO sente amor por mim e eu, embora lhe garanta que ainda o amo, também já não tenho a certeza. Mas o companheirismo já me satisfaz. Sendo uma pessoa racional e objectiva, saber que temos a nossa estabilidade e contar com a presença dele é o suficiente na minha vida. Acontece que ele se apaixonou perdidamente por outra mulher. Não sei muitos detalhes, mas sei que em questão de poucas semanas (talvez um mês ou
dois), aquela mulher provocou nele reacções e sentimentos que não lhe conhecia, em mais de vinte anos de convivência. Ele sempre afirmou que nem teve com ela qualquer contacto intímo, mas eu não acredito. Nenhuma mulher, por muito espectacular que seja, consegue, só por si, pôr aquele brilho no olhar,
aquela expressão iluminada de paixão no rosto de um homem, sem tê-lo “trabalhado” na cama.

Conhecendo o como um homem calmo e racional, nunca pensei ver nele tanta obstinação, firmeza e insistência na separação. Aos poucos, lá consegui demovê-lo desta ideia. Apelando à sua racionalidade,
fi-lo ver que uma paixoneta “a la minuta” não poderia deitar a perder tantos anos de vida em conjunto, destruir tudo o que levou tantos anos a construir. Ele reflectiu e concordou em dar outra oportunidade ao casamento. Estabelecemos o compromisso de nos esforçarmos por dar mais atenção um ao outro, de nos organizarmos de forma a passar mais tempo juntos e reavivarmos a nossa vida sexual (mais imposição dele e cedência minha). E temos tentado. Ele tem-se esforçado, não posso negar. Mas a Fénix não está a renascer. Ele tenta, mas não está. Às vezes, quando o observo sem que ele se aperceba, a sua expressão é de uma angústia,
de uma tristeza profunda… Certas ocasiões, fica agitado e nervoso sem razão, como se tivesse visto ou ouvido algo que o fizesse recordar-se dela… Outras vezes fica parado, com o olhar vazio e perdido… e eu SEI que ele está a pensar nela. Está a pensar no que poderia ter sido e não foi, no que perdeu, no que abdicou por nossa causa, pela estabilidade desta casa. Se calhar culpa-se (e culpa-me) por não ter ido em frente. (...)

Súbdita Devidamente Identificada


Estimada Súbdita, não me leve a mal, mas na realidade, pesando os factos descritos e usando da sua racionalidade, receio não ter compreendido a sua dúvida. Fala de dificuldades económicas, muito trabalho e consequente prosperidade como se isso fosse colar, com cuspo, uma cumplicidade que não existindo à priori dificilmente nasce em momentos de tensão. Refere ainda todo um mundo de diferença que vos aparta que leva à indiferença, o pior de todos os sinais. Por fim, o resultado anunciado: o seu marido apaixonou-se por outra mulher, seja por ela mesma ou pelo que ela lhe faz sentir em planos vários. Na realidade, minha querida, qual é a sua dúvida?

Sabe, eu sou de uma geração em que o amor ainda é a argamassa que nos une a todos, seja em que relação for. Porém, a idade já me permitiu perceber que o companheirismo é o que nos faz ficar em paz perante a inexorabilidade do tempo, muito depois dos arrebatamentos emocionais. Ainda assim, pelo que revelou nas suas palavras, falta um elemento fundamental nessa ligação: amizade. Suponho, e perdoe-me se me engano, que o que a sustenta são as memórias e vontade de não estar sozinha. Entendo o esforço comum de remendo de uma relação, mas neste particular, e perante a ausência de sentimentos e de entendimento, na realidade, sobra-lhe o quê? O medo... catalizador-mor de todas as nossas paralesias e infelicidades.

Como lhe disse, sou o tipo de princesa que não acredita nos impossíveis e que julga que se nos dermos ao mundo o mundo devolve-nos em dobro. Fiz-me entender? :-)

Disclaimer: Este consultório não é profissional, como imaginam. Aqui não se resolvem problemas, conversam-se. O que terá apenas a importância que cada um de nós lhe der. As questões serão respondidas por ordem de chegada, todas as quintas-feiras. Missivas para aqui: sissiresponde@yahoo.com

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