31
Jan05
Corações ao Alto!
sissi
No sábado fui ao Santiago Alquimista ver os Corações de Atum. E gostei. Muito. Sábado marcou ainda a abertura da estação, da minha, já que o meu tempo de contenção e interiorização terminou, para dar lugar a um outro, mais festivaleiro, também ele mais consentâneo com as minhas sinapses emocionais.
De volta ao atum. O Lello Minsk é um tipo interessante. O Manuel João Vieira também. Às vezes gosto dos Irmãos Catita e dos Ena Pá 2000. Mas tenho a impressão que destes Corações vou gostar todos os dias. Tive pena que a varanda do Santiago não fosse mais baixa, mais intimista. Tal como me irritou que as pessoas não tivessem cuidado nem respeito por quem trabalhava em cima do palco e se ouvisse um ruído de fundo dispensável. De qualquer forma, adorei a ambiência jazzística do momento, mesmo que entrecortada pela rima emparelhada das letras de Manuel João Vieira (ou de «um professor de Santarém que se dedicava também ao Import-Export de sabonetes e agora está injustamente preso...»). Se fechasse os olhos por um momento, quase via ali um cantor romântico, um Tony de Matos deste século, por muito que Manuel João o tentasse abafar.
O Manuel João é um virtuoso. Consegue manter-se há anos num registo que se cola a uma minoria pouco quista num país onde o humor não abunda mas vigora a piadola. No meio das frases escatológicas há mensagens bonitas, mesmo quando a figura de Manuel João em palco nos tenta fazer acreditar que aquele não é o seu lugar, ou que é apenas um jeitoso a tentar ganhar a vida. Ele boicota-se, mas se calhar faz parte do «boneco».
Quanto à banda que o acompanha, mais séria, mais contida, achei-a genial. Os arranjos dados a alguns clássicos do jazz que tocaram, denotam um bom gosto e uma elegância que, francamente, não estava à espera de ouvir...Guitarra, contrabaixo, bateria, piano, e quando as imperiais e whiskies permitiam, um banjo ou trompete tocadas, ocasionalmente, pelo mestre Minsk.
Vou estar a tenta às marés deste pescado.