09
Mai06
A Net é uma coisa bonita...
sissi
Da minha boquinha santa nunca sairão frases tão profanas como «o que conta é o interior». Porém, quanto mais o tempo passa e as minha vida se enriquece de experiências às quais me dedico com inominável fervor, mais se desenvolve em mim a ideia que o chamado «interior» é o que nos distingue uns dos outros enquanto pessoas e é, quanto a mim, o que faz despoletar o meu interesse ou desinteresse pela caça.
Claro que agora de repente até parecia que La Palisse estava entre nós na sua enorme ubiquidade que o obriga a estar em vários quadrantes, mas dei por mim a pensar nisto enquanto me questionava com igual força sobre porque razão uns mails trocados com alguém que não conheço me fazem ruborescer de desejo e empurram para os braços, sempre abertos e disponíveis, do meu vibrador?
Estava eu no Palácio Real, na varanda, a roubar os últimos raios de sol do dia, quando irrompe pelo meu mail missiva de novo macho. «Olaré! Que é isto», pensei, enquanto a net teimava em preguiçar, «não conheço este mail»... Era um rapazola que tinha vindo aqui e gostava de trocar umas ideias comigo sobre alguns temas. Como sabem, meus caros, eu sou uma Princesa solícita. Não resisto a apelo bem escrito e inteligente. Além disso, ainda não desisti de ser a Dr. Ruth portuguesa, mas em bom, claro, e rapidamente acedi em responder às questões colocadas, tudo em prol do bom nome deste Reino, obviamente.
A coisa desenvolveu-se. Os mails sucediam-se. Já me sentia a Meg Ryan no «You've Got Mail», mas com um corte de cabelo melhor, e de cada vez que a janela de pop up do hotmail saltava inopinadamente do canto do meu ecrã, eu sentia um frisson booommmm que começava a percorrer-me os estreitos... Mais do que o que estava dito, era o não dito que me agradava. O jogo, que começou por ser de palavras, passou para intenções e quase resvalava para a promessa do «melhor sexo da tua vida», não fosse a frase ser foleira e encerrar em si mesma um ónus da prova que não queria reclamar para mim.
O que é engraçado nestes mails é que aqui ninguém está preocupado com a sua condição, seja ela qual for. A net é um bicho perverso. Tem um lado libertador, que permite criar personas e soltar fantastmas, e, paradoxalmente, prender-nos a eles. Chama-se a isto morrer da cura...porque desabituar o corpo e o espírito desta dose diária de comoção é difícil e nunca é desejável. Quem é que quer viver sempre, a todas as horas do dia, em todos os dias do ano, e todos os anos da sua vida, o seu próprio Eu? Arrisco-me a dizer ninguém...por isso nunca somos só isto ou aquilo. Somos uma série de coisas diferentes em situações diferentes, com uma matriz comum, é certo, mas com contornos diferentes sempre.
Os mails que troquei tinham essa finalidade. É um jogo perigoso. Mas quando bem jogado, é das melhores sensações que conheço. É ter sexo sem o toque, é achar o Ponto G sem nunca nos termos despido, é despirmo-nos sem nunca tiramos a roupa.
Let the Games begin...
(said the princess, with a smile full of lust...)
Claro que agora de repente até parecia que La Palisse estava entre nós na sua enorme ubiquidade que o obriga a estar em vários quadrantes, mas dei por mim a pensar nisto enquanto me questionava com igual força sobre porque razão uns mails trocados com alguém que não conheço me fazem ruborescer de desejo e empurram para os braços, sempre abertos e disponíveis, do meu vibrador?
Estava eu no Palácio Real, na varanda, a roubar os últimos raios de sol do dia, quando irrompe pelo meu mail missiva de novo macho. «Olaré! Que é isto», pensei, enquanto a net teimava em preguiçar, «não conheço este mail»... Era um rapazola que tinha vindo aqui e gostava de trocar umas ideias comigo sobre alguns temas. Como sabem, meus caros, eu sou uma Princesa solícita. Não resisto a apelo bem escrito e inteligente. Além disso, ainda não desisti de ser a Dr. Ruth portuguesa, mas em bom, claro, e rapidamente acedi em responder às questões colocadas, tudo em prol do bom nome deste Reino, obviamente.
A coisa desenvolveu-se. Os mails sucediam-se. Já me sentia a Meg Ryan no «You've Got Mail», mas com um corte de cabelo melhor, e de cada vez que a janela de pop up do hotmail saltava inopinadamente do canto do meu ecrã, eu sentia um frisson booommmm que começava a percorrer-me os estreitos... Mais do que o que estava dito, era o não dito que me agradava. O jogo, que começou por ser de palavras, passou para intenções e quase resvalava para a promessa do «melhor sexo da tua vida», não fosse a frase ser foleira e encerrar em si mesma um ónus da prova que não queria reclamar para mim.
O que é engraçado nestes mails é que aqui ninguém está preocupado com a sua condição, seja ela qual for. A net é um bicho perverso. Tem um lado libertador, que permite criar personas e soltar fantastmas, e, paradoxalmente, prender-nos a eles. Chama-se a isto morrer da cura...porque desabituar o corpo e o espírito desta dose diária de comoção é difícil e nunca é desejável. Quem é que quer viver sempre, a todas as horas do dia, em todos os dias do ano, e todos os anos da sua vida, o seu próprio Eu? Arrisco-me a dizer ninguém...por isso nunca somos só isto ou aquilo. Somos uma série de coisas diferentes em situações diferentes, com uma matriz comum, é certo, mas com contornos diferentes sempre.
Os mails que troquei tinham essa finalidade. É um jogo perigoso. Mas quando bem jogado, é das melhores sensações que conheço. É ter sexo sem o toque, é achar o Ponto G sem nunca nos termos despido, é despirmo-nos sem nunca tiramos a roupa.
Let the Games begin...
(said the princess, with a smile full of lust...)